A sensação é de que falta algo. Não faço ideia do que seja,
mas sei que dentre todas as faltas, esta se destaca. É a pródiga, é a peça
final.
Como a parte única e ausente de um enorme quebra-cabeça, ela
deixa uma lacuna impreenchível, que se ocupada, talvez, explique tudo. Ou nada.
Não está contida nos desamores, na incerteza do sim ou do
não, no antes, no agora ou no depois, nas decepções com o ser humano, com a
vida ou com a morte. Ausente até nas ausências, ela é a falta das faltas, que
não falha em se fazer sentida, mas, é bem provável que jamais tenha sido precisada.
Eu sei que ela está lá. Ela faz questão de ser notada, porém, nunca se deixa
ver.
Todo dia, minha mente realiza uma busca frenética,
procurando em todos os recantos imagináveis, a resposta desse íntimo enigma
antigo.
Refaz os passos, retorna algumas horas, relembra o dia,
revisa as imagens, pesca cada vez mais fundo, em águas cada vez mais rasas.
Pulando de falha em falha, de falta em falta, da lembrança
ao esquecimento, vou avançando e regredindo, em intuito e no tempo, espreitando
algo que sempre está um passo à frente. Ou atrás.
Correndo em círculos, numa ação com ares cada vez mais paranoicos e estéreis, eu vou. Vou meio cego, meio cheio de mim. Eu vou, sem
ir.
Essa é a minha baleia branca. A estrela que devo apanhar, do
céu. A caça de uma vida. E alternando entre estratégia e instinto, entre
suposições e ataques, permito que a caça me acosse e que assuma, ela, o papel de caçador.
E dia após dia, no ápice de um novo episódio deste conto
ordinário, emerge do breu, o sono. E me acorda da realidade, para me por a
dormir.
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