quinta-feira, 25 de julho de 2013

25 de julho de 2013 - A carta de um homem à beira do abismo de si mesmo


Eu precisava estourar meus miolos. Eu precisava de um choque elétrico. Eu precisava de qualquer coisa que me libertasse a consciência. Que me libertasse, também, dela. Eu precisava falar menos, e encaixar-me em algum canto... Fosse uma caixa, uma gaveta ou um cofre.

Eu precisava desaparecer. Era necessário sentir-se integrado e querido, mas não sem antes, aquietar-me e sumir com qualquer vestígio de uma existência anterior. Eu queria mesmo era esfuziar, e se possível, renascer. Mas para isso, era preciso que nem cinzas restassem. Renascer reformulado era plausível. Ressurgir, não.

Eu precisava escapar do peso de todas as decisões. Das que foram tomadas, das que foram delegadas e das que foram simplesmente ignoradas. Precisava escapar das impossibilidades, das limitações. Precisava desvencilhar-me de uma visão impregnada de cinza.

Eu tinha concluído que a vida, daqui por diante, seria a tentativa de estabelecer um equilíbrio fino entre solidão e companhia. Porém em meio a tanto cansaço, a tanta decepção, a tanto desconsolo e a tanto “não é possível”, era cada vez mais difícil manter a vontade. Manter a vontade pra que?  Por quê? Pra quem?
Daqui por diante, derrota e vitória, alegria e tristeza, sorte e azar, seriam apenas coadjuvantes. O protagonismo estaria reservado à amargura, ao desajuste e ao vazio. Os contrastes seriam meros planos de fundo.

E a mim, restaria prosseguir atormentado pelas vozes que há muito me acompanham. Pela sombra do que fui, pela projeção do que serei e, acima de tudo, pelas idealizações de uma renovação impossível e por um final que embora pareça cada vez mais necessário, não encontra a coragem necessária para se fazer.



terça-feira, 16 de julho de 2013

17 de julho de 2013 - Quebra-cabeça




A sensação é de que falta algo. Não faço ideia do que seja, mas sei que dentre todas as faltas, esta se destaca. É a pródiga, é a peça final.

Como a parte única e ausente de um enorme quebra-cabeça, ela deixa uma lacuna impreenchível, que se ocupada, talvez, explique tudo. Ou nada.

Não está contida nos desamores, na incerteza do sim ou do não, no antes, no agora ou no depois, nas decepções com o ser humano, com a vida ou com a morte. Ausente até nas ausências, ela é a falta das faltas, que não falha em se fazer sentida, mas, é bem provável que jamais tenha sido precisada. Eu sei que ela está lá. Ela faz questão de ser notada, porém, nunca se deixa ver.

Todo dia, minha mente realiza uma busca frenética, procurando em todos os recantos imagináveis, a resposta desse íntimo enigma antigo.

Refaz os passos, retorna algumas horas, relembra o dia, revisa as imagens, pesca cada vez mais fundo, em águas cada vez mais rasas.

Pulando de falha em falha, de falta em falta, da lembrança ao esquecimento, vou avançando e regredindo, em intuito e no tempo, espreitando algo que sempre está um passo à frente. Ou atrás.

Correndo em círculos, numa ação com ares cada vez mais paranoicos e estéreis, eu vou. Vou meio cego, meio cheio de mim. Eu vou, sem ir.

Essa é a minha baleia branca. A estrela que devo apanhar, do céu. A caça de uma vida. E alternando entre estratégia e instinto, entre suposições e ataques, permito que a caça me acosse e que assuma, ela, o papel de caçador.

E dia após dia, no ápice de um novo episódio deste conto ordinário, emerge do breu, o sono. E me acorda da realidade, para me por a dormir. 




sábado, 6 de julho de 2013

6 de julho de 2013 - Viver menos














Acabei de completar uma semana em meu novo trabalho. Depois que a minha rotina sofreu esta mudança, eu tenho tido pouco tempo livre e esta é uma situação muito pouco familiar. Sempre estive acostumado a ter muito tempo. Viver pouco e aos poucos.

Não acho que possa reclamar do meu ofício. Trabalho perto de casa, com algo que gosto.  A atividade certamente não tem o prestígio e a ludicidade de tantas outras, mas é real, é tangível, é rentável, não acho que eu possa esperar muito mais.

Mas à noite... à noite, eu tenho que viver. Eu, que estava acostumado a espalhar meus afazeres em pontos esparsos do meu tempo, vejo-me obrigado a condicionar tudo o que tenho de mais importante a pensar(ou não pensar) e(ou) a fazer, em um curto período. É a vida comprimida. É a vida em comprimidos para dormir.

Essa ideia de reunir tudo num curto espaço, é meio assustadora para mim. Quando me dou conta, é tarde, passei muito tempo ponderando, ou simplesmente o deixei passar. É hora de dormir. É hora de repousar, juntamente com todos os desejos antigos e contidos, com todas as neuroses, com todas as insatisfações, com todas as falhas, ausências... com a atenção quase que inteiramente voltada ao novo cargo, com o temor de que logo ele se afaste. Eu e todas as minhas usuais companhias, vamos repousar , para no dia seguinte, após 6 ou 7 horas de sono, acordarmos, preguiçosos e caminharmos emparelhados, numa recém adquirida jornada.

Meus desgostos são altamente fiéis. Não me abandonam nem mesmo durante a labuta.

A solidão é a mesma, as decepções que eu continuo tentando atenuar com indiferença, também. Eu já não tento falar e ninguém demonstra interesse em fazê-lo. Talvez seja melhor desta forma. Solidão não se vive a dois.

Entre as longas horas de obrigação, que se alastram pelos meus dias, sem serem mais inúteis que as longas horas de ócio as quais eu me reservava, vou me dando conta do real motivador desta inquietação que me impede de aproveitar efetivamente as poucas horas livres que tenho.

A vida é veneno para mim. Para todos, se analisarmos bem a situação. Há quem não concorde, mas, é o que penso. E não sinta pena, caro leitor. Não sinta coisa alguma, eu me acostumei com a situação. Mesmo com este corpo e com esta mente fodidos, eu gosto de estar vivo. Talvez eu seja uma espécie de ermitão moderno, trancado no meu quarto, fugindo de meus semelhantes... mas, eles são tão diferentes, tão superiores... que diabos eu faria no meio deles?

Não é uma forma convencional de viver, mas é a minha maneira.  É a forma que encontrei para não pirar. Para alguns, sobreviver, é a saída. Mais do que isso, é martírio, é auto-flagelo.

Ciente do veneno que me é administrado em doses diárias, contido em cada segundo experimentado, percebi ter duas opções: partir de pronto, ou tomar doses cotidianas do meu algoz. Optei(obviamente) pela segunda. E cada pensamento, cada gesto, cada decisão, é um pouco de veneno que eu ingiro.

Talvez por isso, eu estivesse acostumado a fazer tão pouco. Administrava-me doses minimas e espaçadas, o suficiente para um equilíbrio saudável entre o viver e a inevitável abrasão mental e cronológica.

Mas agora, no novo contexto, com tão pouca disponibilidade, eu faço tudo em pouco tempo. Tudo ao mesmo tempo. Me injeto doses cavalares, em todo período de folga.

Me dei conta do que me assusta. Do que me impede de como os outros, gerenciar meu tempo de forma saudável. Me dei conta da razão de estar ainda mais confuso.

É toda essa vida concentrada, injetada na veia. É viver muito, em pouco tempo. É viver demais esse desgaste, esse desgosto, essa peçonha.

Quem me dera viver menos.