Eu tinha que escrever um texto. Faltava inspiração, vontade.
Talvez faltassem ambos, mas, eu tinha que escrever um texto. Era isso o que um
post-it no meu desktop fazia questão de alertar.
Era o meu compromisso semanal: voltar a escrever, postar um
texto a cada uma ou duas semanas. A cada semana, preferencialmente.
O problema, era encontrar assunto. No dia 12 do mês
corrente, meu time, o Vitória, aplicou uma sonora goleada sobre o nosso maior
rival, no território inimigo. Ah, isso era assunto. Mas, escrever duas vezes na
mesma semana e provavelmente falhar com o meu compromisso na semana seguinte,
não seria legal. Também não seria, escrever sobre futebol por duas semanas
seguidas. Com o título do campeonato baiano quase assegurado, seria inevitável
ignorar o tema ao escrever o próximo relato. Deixei, então, a escrita para a
próxima semana, esperando que algo mais me chamasse a atenção e que meu time
pudesse atuar de forma parecida a da primeira partida das finais.
A semana passou e, nada além do futebol me despertou
interesse. Tentei escrever sobre outras coisas, mas, tudo o que eu pensava, era
tão triste, era tão piegas, que não dava pra levar aquilo a sério. Das coisas
que não me permito ser, piegas é uma delas. Ser piegas, não dá. Não em tempos
atuais.
Enquanto isso, no relvado, Beckham, Scholes, Alex Ferguson e
outros, despediam-se de suas atividades profissionais relacionadas ao
esporte(Ferguson como treinador, e os outros, como jogadores), e a final se
aproximava. Enfim, era futebol e mais nada. Não havia saída.
Eu esperava a decisão do campeonato estadual, para soltar o
grito de campeão, para preencher-me de ânimo e redigir um bom texto. Pensava em
como o futebol é, foi e continuará sendo a salvação para muitos ânimos, para
muitos textos e para muitas vidas, mundo a fora. Também pensava em como é
triste, até certo ponto, ter que contar com consolos, e como pode ser pior
sequer ter a eles.
Ah, claro! pseudo-intelectuais atacariam a este texto como
uma nuvem de gafanhotos, caso eu fosse um escritor influente, e, claro, caso
alguém me lesse. “O futebol é o ópio dos povos”, diria alguém(como tantos
outros já disseram, antes). Eu digo: “o povo é um doente terminal”. É o ópio
que o mantém vivo. É o ópio que lhe dá algum prazer. Você precisa ter um deus, precisa ter um
trabalho, precisa ter boas relações, precisa ser gentil e agradável, precisa
ser o melhor, e precisa correr, porque o tempo não para. Precisa de sorte.
Precisa sofrer até desejar morrer, por uma causa, ou por outra. Precisa
acreditar que do outro lado, o sofrimento é ainda maior, e por isso, não
desistir, nem deixar de fazer o seu melhor... e continuar acreditando, que de
alguma forma, as coisas possam melhorar, por lá ou por aqui.
Por isso, ao povo, o ópio. Muitos, falam muito, fazem muito
pouco. O crítico do esporte, e de
hábitos populares, associa a estes, o
atraso. Certamente, o FANATISMO do alemão pelo futebol, o crescimento da MLS,
nos Eua, e o sucesso das ligas inglesa e espanhola, são exemplos sólidos de que
este é um argumento falho e ultrapassado. Porém, ele se mantém. Nas condições antes citadas, é
muito difícil, que qualquer um tenha vontade de levantar-se da cama e viver
mais um dia, entretanto, nós o fazemos. E o prêmio, o afago, é a cerveja do domingo,
é o triunfo do time do coração, é a ida ao show de rock, é o tricô da senhora solitária,
é o que se pode fazer para sentir-se vivo, ainda que ligado a aparelhos. Os
ópios do povo, não são a âncora que nos mantém estagnados. São as muletas, que
nos permitem caminhar. Sem elas, nem isso.
Quanto ao jogo... o Vitória atuou de forma pragmática. Levou
o título, mas, a verdade é que o desfecho do torneio foi completamente
desapontante pra mim. Após 14 gols marcados em 3 jogos contra o rival, você
espera uma goleada espetacular, pra fechar o caixão. Uma surra que estragará o
velório do adversário. Aí, seu time joga por um empate xoxo. Aí é foda. Aí não. Aí, você perde o teu
assunto, e o texto do seu blog vira isso. E, foi assim que o Vitória me deixou:
com título(a mim, e a todos os seus torcedores) e sem texto. Pô, leão, isso não
se faz.
Desculpem o mau jeito e até a próxima.