quarta-feira, 5 de junho de 2013

5 de junho de 2013 - Esperança


Eu nunca serei reconhecido como artista. Não que eu seja brilhante. Sou mediano, quando analisado com alguma boa vontade. Por outro lado, o que mais tem nesse mundo, é gente medíocre. São escritores medíocres, cantores medíocres, pintores medíocres, atores medíocres. O mundo é medíocre. A excelência é rara. É rara e fugaz. É difícil atingir um nível alto e é impossível mantê-lo. A perfeição é desumana.

Gente mediana aclama gente mediana, e quando nos damos conta, fazemos de deuses eternos os mais reles mortais. Nós escolhemos ícones em nosso próprio meio, os colocamos sobre tronos e os carregamos sobre nossos ombros.  Os nossos deuses imperfeitos, de carne, pele, ossos e sangue. Assim funciona a sociedade, não poderia ser diferente.

Eu sou um tipo esforçado. Não em termos gerais. Em termos gerais, sou uma vergonha para a sociedade, mas algo na arte me move. Eu gosto de fazer arte. Posso não ter sido agraciado com o dom do brilhantismo, mas a despeito dos tombos que levei no caminho, continuo sendo alguém que relaciona-se com a arte da forma mais tenaz possível. Ela torna-me alguém esforçado enquanto tento materializá-la.

Não, não serei reconhecido como artista. Nunca fui. Os apupos e a indiferença sempre foram superiores à aclamação. Sempre foram superiores à aclamação num mundo onde homens medíocres podem ter as suas coroas e mantos, podem ter toda a glória cabível a um homem. Homens medíocres como eu. Profissionais medíocres como eu.

Não espero a glória de salões iluminados, repletos de gente, preenchidos com a alta sociedade. Não espero a imortalidade, o clichê de quem parte, mas tem a vida perpetuada na mente de quem lembra de sua obra(como se isso fosse fazê-lo menos morto). Espero o tapinha nas costas, o cafuné e a congratulação pelo ” trabalho bem feito”. Mas, estes não vêm. Eles se foram no último vagão do trem que acabou de partir, e eu cheguei atrasado na estação, como quem corre na contramão do tempo.

A todas as almas errantes que um dia vagaram por este mundo, tentando criar a sua própria obra, sempre houve a opção da morte. A morte é a redenção do homem. Ela nos amedronta e nos faz santificar o nosso mais ferrenho rival, se necessário. Sim, a morte fez muito pelos artistas desprezados. Ela faz muito por todos nós, cobrando um preço muito alto, e não nos permitindo ver a glória obtida, vinda de mentes amedrontadas que temem ser as próximas a partir.

No auge da minha “animação” noturna, compreendo que talvez seja a morte, a única via de ter o meu trabalho reconhecido de alguma forma. De ser reconhecido de alguma forma. Não como um nome internacionalmente lembrado, mas, como alguém que terá os seus textos lidos, agora que eles já não serão produzidos. Alguém que será ouvido, já que não mais irá cantar. Alguém que despertará curiosidade, que ficará na memória de alguns, quando já não puder receber os louros.

Foi com esse pensamento, que tive a noção exata do que é a esperança. É uma espécie de cheque pré-datado, ou nota promissória que a vida te dá, na falta do item desejado. Enquanto outros tem os tais itens, e talvez até mais... enquanto eles merecem tanto quanto você, ou talvez menos, você tem em mãos um pedaço de papel. Uma promessa que deverá ser debitada futuramente e, quem sabe, os fundos poderão cobrir o seu sonho.

A vida é certamente desleixada nesse ponto. Ela não tem saldo pra cobrir a maioria de nossas esperanças. As esperanças são cheques sem fundo.

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