sexta-feira, 21 de junho de 2013

21 de junho de 2013 - Meu amigo Charlie Brown



O país está em ebulição. Ou pelo menos parte dele. Muito disso me parece estranho e eu prefiro me manter distante. Se você se mantém distante, é visto como vilão, se você se atira de peito aberto e olhos fechados numa causa,  pode ser vilão também. O tambor gira, a arma vai disparar, a bala vai atravessar, quente, a cabeça de alguém. O melhor que dá pra fazer é ponderar as chances, escolher um lado e torcer por um acerto.

Eu vi tudo acontecer e muito estranhei. Tracei uma linha de pensamento e decidi segui-la. Vi que poderia ser útil divulgá-la. Tentei, fui rechaçado. Então me calei. Fui para o retiro tradicional do herói vencido, do herói poucas vezes vencedor. Hoje, vejo jornalistas conceituados que lançam textos na internet, com visões muito parecidas com a minha. Algumas mais agudas até. Vistas como teorias da conspiração por alguns. Pelo menos ganhei algum respaldo. Sempre digo que quando um autor famoso escreve algo que você já sabia há muito, aquilo parece tornar-se válido. Não deveria ser assim, mas a vida está longe de ser um modelo de perfeição.

Prefiro continuar calado. Prefiro continuar quieto. Quieto mas atento, e aguardando pelo momento ideal para mostrar minhas intenções quanto ao país. Pronto para fazer valer minha vontade nas urnas. Que me desculpem os que enxergam os fatos de outra forma, mas eu sei quando calar e quando falar, e o que me parece, é que muitos quiseram falar, mas poucos sabiam o que dizer. Acabaram falando sem saber, algumas verdades fabricadas.

Todo mundo vai falar dos protestos, da sua “beleza”, da sua “lisura”... eu vou procurar outro tema. Cá, com minhas limitações, procuro espaços abertos, procuro um espaço onde tenha tempo e calma para mostrar o que eu sei(até que alguém me desminta).

Vou falar de mim, do que ainda lembro. De tardes de domingo, sentado no sofá, em frente à televisão, assistindo um programa qualquer. Das reuniões familiares, quase em meio à rua em que morava, onde as famílias se juntavam em torno de mesas, comiam petiscos, bebiam cerveja e ouviam música(em alto volume).

Ah, a música! Ela era o marco máximo destes tempos. Se algo daquela época ficou claro na minha mente, foi a canção que simbolizava quase integralmente aqueles momentos: “Charlie Brown”, de Benito de Paula.
Domingo após domingo, a dada altura da tarde, o hino dessas confraternizações era executado.  A “amizade” que unia meus vizinhos, resumida numa canção... propagava-se pela rua o refrão, “Eh! Meu amigo Charlie! Eh! Meu amigo Charlie Brown!”. E nos domingos, todos eram amigos íntimos. Todos eram amigos do Charlie Brown, e eu, dentro de casa, passando mais um domingo com a minha família, também me permitia pensar ser amigo dele.

E quem era o Charlie?

Vim descobrir,  realmente, algum tempo depois. O Charlie era um cara simpático e incompreendido. Era ovelha negra, não da família, mas do mundo e ainda assim, continuava lá, simples, esperançoso, motivado.

Criei vínculo com aquilo. Era mais que um personagem. Era uma identificação quase absoluta. Como foi com Kevin Arnold, com Gregory House, Sherlock Holmes... eu crescia e me identificava muito mais com personagens do que com colegas, vizinhos, conhecidos... é, isso não soa como algo natural. Era a minha representação nas telinhas, nas páginas de jornal. Ele não existia, mas, quem se importava?

Ainda hoje me espanto com a maturidade existente nas histórias de Snoopy e sua turma. As vezes me pergunto se aquela crueza com que as vezes o mundo é mostrado, deveria estar presente numa animação infantil. Outras vezes, me pergunto o porque de todas as animações infantis não conterem aquele grau de sinceridade.

Charlie mantém lugar marcado na minha memória. As nostálgicas tardes de domingo e a canção que o citava, as diversas vezes em que, frente à vida, senti-me tentado a encará-la e dizer: “Prazer! me chamo Charlie”, a admiração por este cabeçudo de calvície absurdamente precoce... e querem saber de uma coisa? Se por um acaso esta figura estivesse caminhando por aí, lhe chamaria para tomar um refrigerante, conversar... deixar-lhe contar a sua história. Se eu pudesse, seria amigo do Charlie também. 






6 comentários:

  1. Boa opinião e palavras. Seu modo de escrever também ajuda e muito, de uma forma que não importando o tamanho do texto, não fique cansativo a leitura.

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  2. "Todo mundo vai falar dos protestos, da sua “beleza”, da sua “lisura”... eu vou procurar outro tema." Parece que tirou essa frase dos meus pensamentos até... Muito bom, o vídeo no final deu um toque dinâmico bem legal.

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    1. Dizem que as ideias estão por aí, soltas no ar... talvez tenhamos compartilhado essa... hahaha. Sobre o vídeo, achei que seria legal mostrar a música, já que muitos poderiam não conhecê-la.

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