quarta-feira, 21 de agosto de 2013

21 de agosto de 2013 - Meio saudosista, meio mussarela



Há alguns meses fui convidado para uma confraternização que envolveria os meus colegas de ensino médio. Uma reverência ao saudosismo de tempos que já não recordamos com precisão.
Fico admirado com a aura de perfeição que aqueles tempos adquiriram, já que se eu me esforçar um pouco, lembrarei que sofri como um cão, no biênio 2008-2009. Entretanto, foram tantos contos sobre este tempo e tantos pontos aumentados, que minha mente, antes desvairada, deu novas, mais belas e vívidas cores a este período.

Tudo bem, deixemos que essa seja a minha época de ouro. Deixemos que esses sejam os dias que eu me orgulharei em narrar para os netos alheios, ainda que já não possa haver precisão na narrativa, que os fatos já tenham sido mesclados à fantasia e que possam ter perdido os seus reais contornos. Deixemos que essa seja a minha “estória”, pois nenhum tempo áureo está alheio às projeções que lançamos sobre eles.
Essa foi a era em que experimentei a mais avassaladora das paixões e dela, extrai o amargo, que por muito tempo permaneceu em meu paladar. Foi a era dos “babinhas” na quadra de concreto. Da surpreendente convocação para o nosso combalido time de basquete e das nossas vitórias por “W.O.” Foram os tempos do meu cover de Elvis e do meu consequente envolvimento com a música. Dias de aulas gazeadas, de pensamentos distantes.

Eu pertencia a um grupo. Neste grupo não havia um só indivíduo bonito, brilhante, hábil... Nenhum de nós se destacava. Éramos sínteses do indivíduo comum. Rapazes sem muitas qualidades, jogados aos vorazes leões da sociedade, na jaula do ensino médio. Mas resistimos. Juntos, como se formássemos um pelotão, avançamos, e sem perder sequer um soldado, cruzamos a linha e fomos viver nossas vidas. Mantivemos-nos de pé, porque na bolha que criamos nossas deficiências não falavam tão alto. Éramos suficientes.
Cada um dos alunos daquela classe era singular. Em personalidade, em características físicas, em funções sociais... Todos eram absolutamente únicos.

E então, surge essa ideia de que nos confraternizemos. Surge essa ideia de me por frente à minha paixão adolescente, para descobrir que ela engordou uns 20 quilos. De me reapresentar ao sonhador, para constatar que ele largou o violão e tenta mostrar-se satisfeito ao ser explorado cruelmente por uma companhia qualquer, em troca de um ordenado miserável. De abrir meus olhos para a realidade e enxergar os rascunhos toscos que nos tornamos.


Eu agradeço, mas rejeito.  Não permitirei a profanação do passado... Do meu passado. Todos nós seguimos diferentes caminhos e estamos tão distantes uns dos outros, quanto estamos do que éramos. Prefiro manter o que resta da visão dos “anos dourados”, sem confrontá-la com a vil realidade. Prefiro que sejamos o que fomos. Ainda que não o tenhamos sido.


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