Há alguns meses fui convidado para uma confraternização que
envolveria os meus colegas de ensino médio. Uma reverência ao saudosismo de
tempos que já não recordamos com precisão.
Fico admirado com a aura de perfeição que aqueles tempos
adquiriram, já que se eu me esforçar um pouco, lembrarei que sofri como um cão,
no biênio 2008-2009. Entretanto, foram tantos contos sobre este tempo e tantos
pontos aumentados, que minha mente, antes desvairada, deu novas, mais belas e
vívidas cores a este período.
Tudo bem, deixemos que essa seja a minha época de ouro.
Deixemos que esses sejam os dias que eu me orgulharei em narrar para os netos
alheios, ainda que já não possa haver precisão na narrativa, que os fatos já
tenham sido mesclados à fantasia e que possam ter perdido os seus reais contornos.
Deixemos que essa seja a minha “estória”, pois nenhum tempo áureo está alheio
às projeções que lançamos sobre eles.
Essa foi a era em que experimentei a mais avassaladora das
paixões e dela, extrai o amargo, que por muito tempo permaneceu em meu paladar.
Foi a era dos “babinhas” na quadra de concreto. Da surpreendente convocação
para o nosso combalido time de basquete e das nossas vitórias por “W.O.” Foram
os tempos do meu cover de Elvis e do meu consequente envolvimento com a música.
Dias de aulas gazeadas, de pensamentos distantes.
Eu pertencia a um grupo. Neste grupo não havia um só
indivíduo bonito, brilhante, hábil... Nenhum de nós se destacava. Éramos
sínteses do indivíduo comum. Rapazes sem muitas qualidades, jogados aos vorazes
leões da sociedade, na jaula do ensino médio. Mas resistimos. Juntos, como se
formássemos um pelotão, avançamos, e sem perder sequer um soldado, cruzamos a
linha e fomos viver nossas vidas. Mantivemos-nos de pé, porque na bolha que
criamos nossas deficiências não falavam tão alto. Éramos suficientes.
Cada um dos alunos daquela classe era singular. Em
personalidade, em características físicas, em funções sociais... Todos eram
absolutamente únicos.
E então, surge essa ideia de que nos confraternizemos. Surge
essa ideia de me por frente à minha paixão adolescente, para descobrir que ela
engordou uns 20 quilos. De me reapresentar ao sonhador, para constatar que ele
largou o violão e tenta mostrar-se satisfeito ao ser explorado cruelmente por
uma companhia qualquer, em troca de um ordenado miserável. De abrir meus olhos
para a realidade e enxergar os rascunhos toscos que nos tornamos.
Eu agradeço, mas rejeito.
Não permitirei a profanação do passado... Do meu passado. Todos nós
seguimos diferentes caminhos e estamos tão distantes uns dos outros, quanto
estamos do que éramos. Prefiro manter o que resta da visão dos “anos dourados”,
sem confrontá-la com a vil realidade. Prefiro que sejamos o que fomos. Ainda
que não o tenhamos sido.
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